domingo, 19 de outubro de 2008

Na rotina cansativa, no exausto dia de labuta, no cinza do cotidiano é impossível haver poesia,
Na angustiante margem do caminho certo e previsível,
Na ansiedade da mudança repentina, espero...
Assim não há surpresa que me faça sorrir, não há coincidência que me faça chorar,
Nesse jardim plantarei algumas flores, essas que irão colorir meu casamento e meu funeral,
Com o tempo as pétalas cairão da beleza ao pó.

O meu espírito não se encontra em lugar ermo,
Do contrário ele sabe muito bem da sua condição, com quem está,
A solidão é apenas uma fase passageira...Um retiro do qual entramos em transe profundo e avaliamos nossas atitudes perante a vida.
Suas mãos que envolvem meu corpo acariciam minha face ao passo que rasgam minhas anotações, poesias e memórias,
Só há poesia na dinâmica dos sonhos, na boemia, nas cores da breve existência.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Um grande amigo...Saudade...

Na sombra taciturna da morte encontramos abrigo dos nossos arrependimentos,
Somos escravos do nosso próprio destino...
Companheiros de estrada, camaradas de luta, revolucionários estudantis,
Ébrios das madrugadas, o sereno era nosso lar, a sarjeta nossa escola,
Sonhos eram confessados, ao som do violão muitos amores eram exaltados,
Ao sabor do vinho muitas paixões eram esquecidas,
A cada trago do cigarro poesias se formavam...

No intervalo escolar sentíamos a leve brisa das manhãs em nossa face,
A cada festival era uma conquista, e a cada livro era um sorriso,
Nos congressos, discursos exaltados, panfletos distribuídos, a fúria contra o sistema era nosso laço...
Lágrimas, lágrimas, lágrimas. Uma pausa.

Do abraço caloroso ao gelado do túmulo, do olhar carinhoso ao choro mais inquietante...

A ti, ofereço o mais gelado dos vinhos, o mais saboroso dos tragos, a poesia de Fernando Pessoa e Álvares de Azevedo... Um abraço de despedida e a certeza que nos encontraremos no equilíbrio natural das coisas. Dizer vai com Deus à um ateu é dizer: vai em paz com a sua matéria e descanse no profundo da solidão da morte.

Descanse seu corpo Guerreiro, poeta!

“Quando pararem todos os relógios
De minha vida e a voz dos necrológios
Gritar nos noticiários que eu morri,

Voltando a pátria da homogeneidade,
Abraçada com a própria Eternidade
A minha sombra há de ficar aqui! ”

Augusto dos Anjos.
Enquanto alguns seres nasceram com a missão de comandar, outros nasceram para serem comandados...Alguns nasceram para brilhar, enquanto outros nasceram para ofuscar tal brilho...Assim do mesmo modo alguns nasceram limitados, seja fisicamente ou mentalmente, onde seu ápice é apenas receber ordens sem algum raciocínio, meros espectadores do cotidiano, sem sucesso ou futuro promissor, repassando ordens sem questioná-las, ou terem capacidade para tal ato. O homem não nasceu apenas para atividades laborais, mas para amar e ser amado, para sonhar e conquistar terras, paixões e sabores, a labuta é apenas um complemento de uma vida carnal que em breve entra em estado putrefaço.

Mais uma noite...

_Nossa como está frio!!
- Está mesmo.
- Boa noite senhor...

O vento gelado envolve meu corpo, nossa como está frio, sinto arrepios, apenas uma camiseta preta... Puxa, devia ter ouvido minha mãe: “_ Leva a blusa que vai fazer frio”, dona Maria uma rainha!!! Quando não as ouvimos a gente se fode!!!
Mais uma noite, mais alguns trocados, assim logo terei minha carta de habilitação, R$ 1000,00 conto, puta que o pariu, caro pra caralho.

_ O Parceiro aonde é o banheiro?
_ É logo Ali...

Putz, nem um obrigado. Pessoas começam entrar, estou só essa noite, que Deus me proteja, e São Jorge também, tenho confiança nele, já me salvou de várias tretas.

_ Pois não senhor?
_ Opa! Tranqüilo? Viu... quantas mulheres tem hoje?
_ Hoje estamos trabalhando com seis senhor...
_ Humm, bom...quanto é a entrada?
_Senhor R$ 10,00 e tem direito a três cervejas!
_ Porra tá caro!!!
Mão de vaca do caralho, tem quatro fazendas, canavieiro, tem dinheiro e tá reclamando.
_ Eu pago, vou entrar
_ Sim senhor, aguarde que vou efetuar a revista no senhor...
_Tem isso também?
_ Senhor, guarde a arma no carro, por favor.
_ Olha garoto vou ficar com ela
Puta merda, só falta encrencar agora.
_Senhor... Com arma não entra
_Faz assim, fica com ela pra mim, depois eu pego.
Nossa, mais uma, já não basta a minha? Cara folgado...

Ambiente escuro, a música toca na máquina, mais R$1,00, mais uma música...Assim a madrugada vem, lenta e traiçoeira...Me assusto com uma barata no meu pé, filha da puta vou te dar um tiro. Clientes e mais Clientes, homens casados, homens separados, homens...todos solitários e carentes, sem sorte no amor frustrados.
Puxa mais um strip-tease, cansei de ver, vou ver a lua, faz tempo que não a vejo.

_Luciano tem um cara cheirando no banheiro, porra, te pago pra que?
Nossa mas já, parece que noite vai ser longa
_ E ai irmão firmeza? Então, se quiser cheirar vai lá fora, aqui não dá.
_É rapidinho, só tem uma carreira é um, dois!!!
_ Não dá, ou você cheira, ou você vai embora.
_ È rapidinho.
Não acredito que ele vai encher minha paciência logo agora.
_ Você vai cheirar? Então deixa eu ver essa carreira...
O idiota ainda mostra, uma carreira grande e gorda em cima da tampa do sanitário.
Fuuuuuuuuuuuuuhhhhhhhhh, um leve assopro, que dó!!!
_Caralho irmão era meu ultimo papelote
_Foda-se, pra fora!!!
_Firmeza... Vou te encontrar ainda.
Nossa mais um, acho que ele vai ter que pegar senha, a fila pra me matar ta grande.

Volto para a portaria, de um lado um copo de uísque, do outro um recipiente com alho e sal grosso, espanta mal olhado e atrai mais cliente. Estou com fome, que horas são? Quase 2 da manhã, nossa tem chão ainda pra noite acabar...
Adoro essa música, Jenifer Lopez; Love Don't Cost a Thing, já sei quem a colocou...Primeira dedução e acerto, olho à máquina de música e lá está ela, Luciana. Morena clara, estatura mediana, cabelos até os ombros castanhos claros, hoje ela está mais moderada, veste um vestido branco um palmo antecedendo o joelho, sem sutiã, com uma sandália de salto. (risos) Sou louco por ela, meus olhos brilham ao notar sua presença, um leve sorriso aparece no canto da minha boca, tento esconder a satisfação em vê-la, mas não dá, pareço um pit bull ao ver o dono.

_Olá moço, tudo bem? Me dá um abraço.
_Oi, como você está?
Abraço ela e sinto seu cheiro...O pecado da minha vida!!! Ela me dá um leve beijo, fico parado e aproveito o momento, logo volto a si e percebo que alguém se aproxima, é o patrão!!! Fudeu, ele não gosta que se envolva com as meninas em hora de serviço, espanta os clientes.
_Vai para a portaria Luciano.
_Sim senhor!!!
Nossa, falo senhor o tempo inteiro, quando será que me chamarão de senhor? A ultima vez que me chamaram de senhor, foi quando o sargento no quartel me colocou de guarda: “Parabéns Senhor, acaba de ganhar um final de semana no quartel !!!”. Gente fina o sargento, ensinou-me muitas coisas.
_ Briga!!! Briga!!!
De repente ouço gritos, minha barriga gela, meu coração dispara, os olhos começam a ficar vermelhos... É agora, a adrenalina domina meu corpo, em instantes chego no balcão, a confusão está armada, são dois, respiro, consigo dominar um, o outro se afasta, levo o cliente pra fora, ele nada fala, segue em direção ao seu carro, abre a porta e mexe debaixo do banco, sem vacilar pego minha arma engatilho e espero... minhas pernas tremem...a respiração é incontrolável...quando ele se levanta vejo um objeto em sua mão, não consigo identificar, ele se aproxima...mais um passo e revelo meu guardião.
_Ai irmão perdeu, fica parado ai mesmo, larga isso e deita no chão...
Ele não obedece...
_Parado porra, caralho, parado!!!!
Parou, largou o objeto e deitou-se... Puta que o pariu, era um simulacro, uma arma finta, arma de brinquedo!!!
_Seu merda, ia me matar com isso?
Dou um tiro para o alto...
_Corre seu cuzão, entra no carro e vaza!!!
Em minutos ele não esta mais lá...Não foi dessa vez, agradeço a Deus e a São Jorge pela proteção, estou cansado, a adrenalina em excesso cansa, volto para dentro do estabelecimento e olho no relógio, são 5 horas, acabou.
_Ae tio, tá na hora, passa o cadeado na porta.
_Sim senhor...
Mais uma noite, mais alguns trocados.